quarta-feira, 28 de maio de 2008

Peristaltismo

O ritmo do dia-a-dia engole. Te engole, me engole, não tem dó. Deglute simplesmente, às vezes mastiga e mói em mínimos pedaços antes de deixar descer pela garganta. Engole. Poucos são os que conseguem fugir das mandíbulas deste gigante meio-monstro. Pouquíssimos são os que conseguem fugir de seu ventre, estes sim são raríssimos! Uma vez lá dentro e pronto, parecem esquecer o caminho de volta ou como é (melhor) ficar de fora. Eu, que me julguei muito diferente, caí em sua boca como os outros. Agora me pego no meio deles, tão comum.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Nu e Cru

O Ensino Médio é um mundo à parte. É um mundo especial, feito do tamanho e jeito certos para adolescentes. É o casulo, entramos lagartos e saímos borboleta. Ou quase isso.
Entrei no 1º ano como uma pré-adolescente chata, muito chata, e influenciável, extremamente influenciável. No 2º ano eu era só abraços e sorrisos. Já no 3º eu sou saudade, nostalgia, mas com certeza sou uma soma de tudo que aprendi nesses últimos dois anos. Nunca aprendi tanto em tão pouco tempo, nunca mudei tanto, melhorei tanto. Sou grata. Mais do que grata.
Meu mundo paralelo é o Colégio Classe, aquele lugar estranho onde só se vê homem dando aula (com exceção da Senhora Mãe Majadas que entrou este ano), onde o forte é Humanas, onde "estão formando mais que vestibulandos, estão formando seres humanos". Talvez nem eles saibam como essa frase é verdadeira, talvez pensem só que é uma boa frase pra chamar mais alunos ou agradar a pais, mas eu sei o quão verdadeira é.
O Classe não é um colégio qualquer com plantão de dúvida de tarde, professores de manhã e uma coordenação bem organizada. Aquilo lá é inexplicável, não sei como, mas me faltam palavras. Me diga qual colégio oferece aula de Teatro/Cinema/Fotografia? Aula de Mídia? Aula para "Novos Escritores"? Jornal da escola com matérias inteligentes sobre temas atuais (ou não) e música boa? Aula com professor de Filosofia em que lêem e estudam clássicos literários? Escolas que ajudam creches? Escolas que levam os alunos para vêem a realidade fora desse mundinho de conforto em que nós vivemos? Que escola tem tudo o que é necessário e muito mais ainda, como o Classe? Talvez alguma escola tenha coisas parecidas, mas nada chega sequer perto do que aquele colégio é.
Admiro tudo o que o Classe é, tudo o que já foi. A unidade da T-11 era pra mim como uma segunda casa, muitas vezes era como a primeira casa. Passei tardes e mais tardes por lá durante meu 1º ano, tardes com e sem coisas pra fazer, tardes que mesmo vazias são minhas lembranças preciosas. Eu e meus amigos tínhamos um canto da sala só pra nós, ainda estávamos todos juntos na mesma sala e tínhamos o caderninho vermelho que nos acompanhava em todos os lugares, o caderninho que guarda nossos pensamentos, que nos viu amadurecer. No segundo ano nos mudamos pra nova unidade e tudo tinha um jeito novo, um cheiro novo (lembrando que minha memória é olfativa). Já não estávamos todos na mesma sala e estávamos diferentes, um tanto quanto "crescidos", um tanto quanto mudados. O Classe estava crescendo e nós com ele.
Um certo professor disse que nossa época foi a melhor época do Classe, a época do meu 1º e 2º ano. Disse que nenhuma turma de antes e nem as que vieram depois foram tão boas. Eu posso dizer que nenhum colégio foi melhor que o Classe, nenhum antes. Posso dizer que nenhuma época foi tão marcante, posso dizer que nunca conheci pessoas tão únicas.
Agradeço aos professores que me proporcionaram esses anos maravilhosos, agradeço a todos, desde os mais amados aos mais odiados.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Dentre olhares, olhares, olhares. Olhares que te devoram, que te levam e te trazem, olhares que são mares, que são outros. Dentre todos os errados e todas as dores advindas dos errados e os erros cometidos no passado, encontrei o teu. E então foram olhares e olhares e olhares, mãos e mãos, braços nos abraços e lábios. Foram olhos cerrados e lábios unidos, tudo único e infindável. Beijos e abraços e doces palavras dos teus doces lábios, estávamos juntos. Não era mais uma só, era parte de uma dupla, um dueto, alguém pra cantar a vida comigo. Completos e sorrisos. Dois jovens que descobrem o amor, descobrem um dia-a-dia colorido de cores diferentes e o universo paralelo dos amantes. E então estão sendo olhares, mãos, abraços e lábios. Estão sendo nossas palavras, nosso dia-a-dia e o nosso amor, no nosso universo paralelo.

sábado, 17 de maio de 2008

Adeus você

Sentada da maneira mais confortável que achei, pedi que colocassem certa música e cantei junto. Estava cantando cada palavra com força, como se a força tirasse os resquícios do que um dia aquela canção me fez sentir, mas a anestesia do dia-a-dia estava presente. Cada palavra cantada me lembrava das palavras escritas, as sensações variadas, o passado-próximo. Finalmente um frio na barriga, algo pra sentir de verdade! Me empolguei mais, cantei mais alto e olhei para trás, lá estava ele, passando calmamente de um lado pro outro. Mal sabe que durante semanas cantei essas palavras pensando nele. O frio congelou, a sensação doeu e as palavras eram só parte da canção, não de mim.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

De leve

Tenho vivido de maneira leve, sem grandes emoções, sem grandes choques, sem grandes coisas. Tenho levado a vida um pouco desleixada, mas pretendo e vou mudar, e está tudo bem leve. Eu estava acostumada com finais de semana cheios de emoções, incluindo domingos que eu julgava chatos por serem tão quietos, eu queria sempre mais e não me importava se no dia ou no segundo seguinte me bateria uma tremenda ressaca, moral ou não. O retrato dessa vida leve que venho levando são meus domingos, domingos regados a músicas calmas e uma tranqüilidade que não me incomoda, ou meus finais de tarde em que pego minha câmera e tiro fotos do pôr-do-sol. Comparando minha vida a um filme, estou sendo atriz coadjuvante e a vida de atriz coadjuvante não cansa tanto quanto ser principal e tem me ensinado bastante.
Virei amiga-ouvidoria, daquelas que ouvem o que os amigos têm a dizer sobre suas vidas e tenta aconselhar. Meu lado emocional tem sido alimentado por séries de televisão e conflitos na vida amorosa de amigos e assim vou anotando no meu bloquinho mental o que devo ou não fazer quando voltar a ser protagonista. Aprendi a ficar mais calada e a pensar mais vezes antes de dizer o que quero quando estou nervosa, aprendi com a quase perda de uma amizade extremamente importante. Aprendi que não adianta ficar sentada reclamando de tudo, se eu quiser tenho que levantar e fazer acontecer, e foi assim que consegui deixar de lado coisas que me angustiavam há tempos. Tenho aprendido bastante.
Minhas manhãs são cheias de professores, matérias e a correria normal de 3º ano, já não há aquele lado da sala cheio de amigos meus com quem eu conversaria a aula toda. Sento próxima a duas meninas que não têm nada a ver com os meus amigos e sei que não criarei laços com elas, mas não estou a procura de novas amizades e por isso não me incomodo. Dentro da sala de aula tenho três amigos e alguns colegas com quem converso eventualmente, a grande maioria da sala não faz diferença alguma na minha vida e quando faz é porque está atrapalhando a aula e é aí que a "nova Laura" pede silêncio com um sshhh bem chato ou com um educado grito de CALA A BOCA!.
Às vezes acho que me perdi em algum espaço no tempo, mas lembro que continuo aqui e o que está longe ou ficou no passado ainda faz parte de mim. Sinto falta dos meus amigos de conversa em sala, admito. Sinto falta da desordem de emoções e fatos que costumava ser minha vida e de fazer parte das risadas de um grupo se misturando. Todas aquelas emoções fortes, todas aquelas reviravoltas, toda aquela vida. Mas enquanto o que tenho é essa calmaria estranha e singela que se tornou minha vida, estou bem, não tenho do que reclamar. Na verdade a única coisa que dói é a saudade, mas ela dói fina e constante, já nem incomoda.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Goiânia, 07 de abril de 2004.

Senhor Roger Plant,

Li, há algum tempo, uma matéria sobre a Globalização e o trabalho escravo, baseada em algo que o senhor disse e venho por meio desta carta opinar sobre o que li.
O senhor disse que a globalização contribui para o aumento do trabalho escravo e argumentou sobre o seu ponto de vista. Posso dizer que concordo com o que disse, concordo que a globalização facilita o aumento do trabalho escravo. Empresas fogem de países com leis trabalhistas mais rígidas e investem em países que não têm carga horária determinada e a mão-de-obra é mais barata. Países industrializados, mais desenvolvidos, dificultam o acontecimento de trabalho escravo.
Trabalho escravo é algo extremamente desumano, tão desumano quanto os testes que certas indústrias farmacêuticas realizam em países pobres, se aproveitam da falta de conhecimento e oferecem pouco dinheiro para transformar humanos em ratos de laboratório. A busca pelo trabalho leva as pessoas a aceitarem trabalhar sob condições terríveis.
Está crescendo um novo pensamento entre as empresas, o pensamento da consciência ambiental, mas acho que deveria crescer também a consciência humana. Preservar a natureza e valorizar o humano.
Espero que o senhor use do seu cargo de chefe do Programa Internacional de Combate ao Trabalho Escravo e tente mudar esta realidade. O senhor é como qualquer outro cidadão com consciência, só que com um poder a mais, espero que tenha ciência disto. Contamos com o seu empenho.

Atenciosamente,

sábado, 10 de maio de 2008

Quinze Minutos

Sabe aquelas comédias românticas que você fica uma hora e meia vendo a mocinha correr atrás do cara errado e fica xingando ela porque é óbvio que na verdade ela tinha que estar com o cara bonzinho? Não adianta, é essa a fórmula das comédias românticas água-com-açúcar, feitas pra você julgar pela capa e ver em um dia de fossa (de preferência comendo brigadeiro).
Se eu fosse o mocinho, melhor amigo do homem mau que está traindo a mulher que eu amo e mesmo assim ela continuasse me vendo como um amigo e ele como o homem da vida dela, eu continuaria ao lado dela até o final do filme e só resolveria desistir de tudo e aceitar um trabalho do outro lado do mundo nos quinze minutos finais? Todo mocinho é meio bobo e todo apaixonado é bobo também, então sim. Mas como não sou "mocinho" e não estou apaixonada, não esperaria.
Nada de falso romantismo aqui! A mulher é sua amiga desde sempre, se casa com o amigo canalha, você continua nutrindo um amor em segredo durante anos, ela procura por sua ajuda quando percebe que o casamento está esfriando (e, como todo bom mocinho de filme água-com-açúcar, nem passa por sua cabeça fazer dar errado) e quando ela se separa diz que "somos só amigos". Você esperaria até os quinze minutos finais por ela? Se sim, haja força de vontade hein.
Quando eu estivesse dentro do trem e ela corresse pela plataforma e dissesse que me ama eu pegaria uma plaquinha com os seguintes dizeres: "Perdeu, playboy!".

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Abrigo

Errei em tentar virar a esquina sem olhar pra trás. Não pude deixar de olhar, mesmo pensando no quanto poderia doer ver no teu olhar o adeus que eu tinha dito. Ao virar minha cabeça em sua direção vi a tristeza refletida em teus olhos, vi no escorrer da lágrima o tanto que pensou ter perdido ao me ver dizer adeus, mas não perdeu nada. Teve que agüentar minhas palavras duras por minutos, teus belos olhos castanhos me observavam em silêncio e procuravam algum resquício de humanidade no fundo dos meus, não encontrou. Durante os segundos que olhei em teus olhos de longe senti um pouco de sua dor, mas antes mesmo de poder sentir tua tristeza me virei e continuei correndo. Corri pro lado contrário, onde estaria a salvo da nossa história.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Menina-mulher, mulher de verdade

Para Jordana Albino Oliveira

Não sinta saudades de Amélia, Jordana que é mulher de verdade.
Sorriso à mostra, felicidade quase tocável, olhos meigos e espontaneidade. Não importa Amélia, Jordana sim é mulher de verdade. É mulher ainda menina, com um esplendoroso futuro pela frente. Tem inteligência e jeito com as palavras e um olhar mais doce que mel. Tem os sentimentos confusos de uma menina e a vontade de amar de uma mulher.
Disfarça de um jeito só seu, mas é mulher de verdade mesmo quase sem querer. Incógnita a ser decifrada, faz do seu mistério mágica e a todos cativa. Jordana é mulher de verdade, com seu sorriso e jeito marcantes. É diferente e bela, inigualável menina-mulher.

domingo, 4 de maio de 2008

Aleatoriedades

Parte 1) Memória Seletiva?
Qual é a graça de ter uma memória que guarda cada mínimo detalhe de todos os momentos se só você vai lembrar de tudo? Sempre passa pela minha cabeça alguma lembrança e eu tenho vontade de perguntar pra alguém "Você se lembra disso?", mas depois de várias vezes perguntar e ouvir negativas como resposta eu quase não pergunto mais (não freqüentemente). Respondendo à minha pergunta, vejo certa graça em me lembrar dos detalhes. Escrevo sobre coisas reais e as pessoa envolvidas na história podem até ler mas não vão saber que a história toda aconteceu com elas, porque vai ter uma certa mágica que elas não perceberam enquanto viviam, a mágica dos detalhes. Às vezes sinto pena de pessoas que não conseguem ver nas nuvens toda a beleza que elas guardam, ou das que reclamam sempre do tempo ensolarado/chuvoso, ou das que só se lembram das coisas superficialmente. Claro, eu perdôo as que não estavam em seu estado sóbrio.
Se detalhes fossem só detalhes a vida seria compacta demais, seria quadrada e com linhas retas. O que seria de uma viagem de horas sem as curvas da estrada? Talvez então eu tenha descoberto meu superpoder.

Parte 2) Saturday Night: At Home
Ontem parecia estar tudo bem, mas tinha algo diferente. Eu e uma amiga estávamos aqui em casa, locamos dois filmes (Memórias de uma Gueixa e Mais Estranho que a Ficção), compramos pipoca e fomos fazer brigadeiro, tudo exatamente como sempre é. Mas faltava aquela proximidade, onde estava a proximidade? Estávamos juntas há horas e não aconteceu nenhum abraço, isso é extremamente fora do comum no meu círculo de amizades. Enfim, conversamos sobre escola (qual outro assunto duas terceiro anistas teriam? passamos por cima das conversas comuns de adolescente, não haviam meninos e nem fofocas, só escola), fizemos piadinhas químicas sobre o brigadeiro, discutimos a diferença entre vaporização/evaporação/ebulição, falamos sobre faculdade (compre já o seu terceiro anista, ele já vem das lojas estressado e com uma frase decorada: "Oi, vai prestar pra quê?") e eu continuava mexendo o brigadeiro na panela e pensando em como as coisas mudam do segundo ano para o terceiro.
Fomos ver o filme na sala, escolhemos Mais Estranho que a Ficção. A panela de brigadeiro entre nós duas, o balde de pipoca em cima de um banco, junto com os nossos copos de Coca Zero (menos calorias pra se preocupar). O filme já estava acabando e tudo estava normal, muito normal, normal demais pra ser nós duas.
Mal sabia que ao tentar explicar pra ela uma teoria minha sobre estar no terceiro ano e a falta de tempo pra nos divertir iria nos fazer ficar sem fala, de tanto rir. Pronto, estávamos que nem deveria ter sido desde que chegamos em casa. Minhas teorias sempre são furadas, mas não era disso que ríamos, estávamos rindo de uma falha de comunicação. Como sempre a falha de comunicação chegou a tempo de salvar o dia e nos fez chorar de tanto rir.
E aqui quem fala é uma pessoa que quer passar no vestibular pra Comunicação Social, hein? Deus tenha piedade dos meios de comunicação com Laura por perto, amém.