domingo, 30 de março de 2008

Mas não é

Existem mudanças acontecendo em sua mente enquanto os dias passam, não é só o céu que muda de cor marcando os dias riscados no calendário. Passa do sorriso verdadeiro para o falso e então se cala ou diz algo com voz trêmula e a lágrima teima em borrar a maquiagem, segura o papel com toda a força e começa a bater os pés como forma de tentar se livrar de toda raiva acumulada. O salto faz muito barulho e suas pernas já estão doendo, "é o quase que me mata, é o quase que continua me matando aos poucos" diz baixo enquanto diminui a velocidade com que bate os pés no chão e, ao parar, rasga o papel com desânimo. Toda a ansiedade que antes fazia as mãos tremerem ao escrever cada palavra havia ido embora. "Ainda vou remoer muito tempo" pensou com toda razão, afinal ela se conhece o bastante pra saber que não esquece tão fácil de certas coisas.

sábado, 29 de março de 2008

Equilibrista

Estávamos andando por linhas tortas, quem pisasse fora dos quadrados estaria fora da brincadeira, ríamos alto e as pessoas olhavam. Invejam nossa liberdade, eu pensava. Braços dados e garrafas nas mãos, as linhas do chão se moviam e a todo momento pisávamos nelas. Pude sentir o suor dele através da blusa, dançamos a noite toda e cada música era um novo motivo para celebrarmos, minha mente estava vazia e meus quadris eram o comandante. Respirávamos cansados em um só som, cabelos molhados se misturando ao ritmo da música, éramos o rei e a rainha do nosso próprio baile. Já era domingo e o céu escuro dava lugar ao amarelo claro da manhã.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Sentada no banco. Ficou sentada no banco, alheia ao mundo, olhando seus pés irem na direção contrária, lembrando de cada palavra que ouviu, pensando em todas as palavras que guardou. Já não podia observá-lo ir embora e então percebeu que as pessoas à sua volta a estavam observando, algumas cochichavam palavras previsíveis e outras só a olhavam com ar de piedade. Estava com a sandália vermelha que ele tinha comprado, o vestido preto que havia sido usado no primeiro encontro, a bolsa que ele gostava e os cabelos mal-presos em um coque. Havia uma garota falando ao ouvido do namorado enquanto olhava pra ela, uma mãe dando comida para o filho fingindo não ter ouvido ou visto nada, um grupo de adolescentes que comentavam alto, todas as pessoas, as mesas, cadeiras, o chão... Até mesmo o vento sussurrava no ouvido dela, acabou. Percebeu então que seus lábios estavam se encharcando de lágrimas salgadas, sentiu nojo. Sentiu nojo e quis vomitar todas as palavras que havia guardado, queria limpar de sua mente todas as palavras vazias que compunham as desculpas dele, quis esquecer o adeus. Se levantou do banco num impulso só e limpou as lágrimas do rosto, soltou seus cabelos, tirou os sapatos, arrancou o vestido, tirou tudo da bolsa, pegou as chaves e caminhou até o carro. As adolescentes riam, a namorada tampava os olhos do namorado e a mãe virava seu filho pro lado contrário, o segurança não sabia o que fazer. Ela não se importava, sentou-se no banco do carro e dirigiu até a porta da casa dele. Desceu e entregou ao porteiro o vestido, a bolsa, os sapatos e um bilhete, pediu que fosse entregue assim que fosse embora. O bilhete continha o adeus dela e as palavras que teve de engolir por tanto tempo, finalmente teve coragem de dizer. As lágrimas agora eram doces e o vento agora sussurrava outra palavra, liberdade.

Espelho Plano

A organização em grupos é algo que vem junto ao homem desde a Pré-História com a organização dos clãs patriarcais (grupos ligados por laços de parentesco ou sentimentais) durante o Neolítico. Faz quase o mesmo tempo que "Amizade" vem sendo objeto de reflexões e parece ser uma fonte inesgotável, até mesmo por ser algo tão abstrato e importante para o ser humano.
Desde a infância procuramos nos encaixar, ou formar grupos, procurando em outros características nossas. Com o passar do tempo parece se tornar mais difícil criar amizades, se aproximar das pessoas e conhecê-las verdadeiramente, porém essas parecem se tornar mais fortes e duradouras.
Caetano Veloso diz, em certa música, que a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade. O amor é sonho, idealização, já a amizade é história, continuidade. Desde sempre o humano procura seres parecidos com ele e é nestes que acaba confiando, dividindo experiências e criando laços. Pode parecer fácil, mas não é, Montaigne disse certa vez que "encontramos facilmente homens aptos a travar conosco relações superficiais, o mesmo não acontece quando procuramos uma intimidade sem reservas".
O homem não é auto-suficiente e, como já foi muito repetido, nenhum homem é uma ilha. Essa procura por si mesmo faz parte da natureza humana e nada mais compreensível que criar laços com quem tem em si um tipo de espelho onde seu amigo possa se ver refletido.

domingo, 23 de março de 2008

O Quase

Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu está vivo,
quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 20 de março de 2008

Enquanto isso o sonho de morar na cidade sem esquinas continua. Os dias longos são de horas que passam formando um paradoxo entre o rápido e o infindável. Ainda existem cores no que vejo e música da minha trilha sonora imaginária, mas não consigo sentir o abraço do tempo que me soltou de novo para poder correr mais rápido. Enquanto isso o sonho de aprender sobre coisas de meu interesse continua. O espanto das pessoas ao saber o que quero do meu futuro me dá aquele medo. Redescubro o sabor doce do que é antigo (mas continua atual) e o amargo das vontades não-realizadas. O cansaço do que é habitual e a vontade de mudar tudo estão adormecidas, a instabilidade não é mais fonte de segurança. Enquanto isso, continua.

"There will be an answer, let it be."

quinta-feira, 13 de março de 2008

Não precisa correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe há de ir.

Machado de Assis

Momento Rede Tv

Gentem, vazou o novo vídeo da Britney! Já tava um bafafá, né? Todo mundo falando que o clipe seria de animação, que a anime-Brit tinha nada a ver com a real (lê-se: linda, magra e com cabelo de verdade) e que seria parecido com o clipe de Toxic. Olha, se tinham escolhido esse clipe pra copiar porque fez muito sucesso na época em que foi lançado, eu diria que "I'm a Slave 4 U" foi o melhor de todos os tempos e adoraria ver várias cópias (bem feitas) dele.
Vamos ao clipe:


Break The Ice - Britney Spears

Minhas considerações:
1) Nem quando Brit ainda era gente ela se parecia com essa moça do vídeo, convenhamos.
2) Naonde que esse clipe é parecido com Toxic?
3) Gente, sou só eu ou o começo é igualzinho a uma música do Latino?
E por último, mas não menos importante:
4) Pesquisei opiniões sobre o vídeo e descobri que Brit, em um ataque de preguiça agudo, resolveu copiar esse clipe da abertura de um longa-metragem de anime super conhecido. Vamos comparar? Vamos.


Ghost in Shell

Nada se cria, certo? Britney copiou Ghost in Shell que superlembra Matrix. Antes tivesse feito a versão anime de Toxic, Brit, antes tivesse.

quarta-feira, 12 de março de 2008

O olhar dela no meio da multidão chama o olhar do artista que se rende e a desenha em um papel branco encardido. Os cabelos voavam e pareciam espalhar se espalhar com o vento, os olhos se viravam para o chão e pareciam procurar abrigo ao tentar desviar dos demais. "Ela não queria estar aqui" pensou o artista que começou a desenhar em volta da guria uma espécie de cápsula protetora.

domingo, 9 de março de 2008

Retrato

Duas amigas de longa data, já ébrias, conversavam:

- Eu e ele nos afastamos... Eu não quero que nada mais dê errado. Acho que arriscar minha amizade com ele por um sentimento bobo de querer tê-lo pra mim é egoísmo. Egoísmo demais, até mesmo pra mim.
- Mas Clarice, essas coisas não acabam assim...
- Não Lya, mas não acabou... E muito menos foi de uma vez. Eu estava me iludindo por causa da torcida de todo mundo, estava esquecendo que a história é entre eu e ele e não entre eu e a tal "torcida".
- É verdade, isso de torcida sempre atrapalha... Me desculpe.
- Tudo bem... A conclusão da minha semi história de amor é que nossa amizade importa muito mais que qualquer outra coisa. Mais uma vez o final chegou antes do começo, só que desta vez nem me machucou tanto... Já estou meio imune a esse tipo de situação.
- Ando meio frágil... crescer dói. Acho que vocês se afastaram pela falta de tempo, ele tem que trabalhar e você ainda está se adaptando à rotina da faculdade.
- É mesmo... É culpa da falta de tempo. Se tudo tivesse continuado como estava, tenho certeza que poderia dar certo.
- E você ainda quer que algo aconteça?
- Se disser que já não sei, você acredita?
- Você sabe o que é esse sentimento e se o define como algo bobo eu tenho que acreditar... e você tomou uma decisão bem racional.
- É um sentimento bobo perto do que a amizade dele representa pra mim. O que importa é ver que ele está bem, ter ele ao meu lado. Meu sentimento por ele é de muito carinho e admiração.
- Acho estranho você tomando uma decisão tão racional, você geralmente é sentimental.
- Eu sou mais sentimento que razão, com certeza. Mas normalmente quem chega e dá as ordens é a razão... O sentimento só finge ser chefe, na verdade é subordinado.

Silêncio

- Sabe Clarice, eu admiro o jeito como você usa as palavras. Já nem sei o que dizer dessa história... vocês são tão vocês.
- Como assim?
- Sei lá... Vocês são meio de filme, essa sintonia e tudo mais.
- É verdade. Devíamos ter algum tipo de ligação muito próxima em outra vida. Tudo aconteceu tão rápido...
- Realmente, muito rápido! Acho que foram protagonistas de um grande amor em outra vida, tipo Romeu e Julieta e todos esses amores clichês que todo mundo inveja, mesmo que secretamente.
- Será? Pelo menos em outra vida foi real, né?

Mais uma garrafa de vinho havia acabado e as duas amigas riam do humor sarcástico da vida.

'Cause it's a bittersweet symphony, this life

As gotas caem do céu direto na minha janela e fazem um barulho agudo, caem bem devagar. Na escola da rua de trás toca uma música que poderia fazer parte da trilha sonora de Amélie. Os carros passam sem pressa e espalham água pelas calçadas fazendo aquele barulho engraçado. As crianças brincam na rua, falam mais baixo que nos dias normais. Aqui dentro só ouço o barulho dos meus dedos batendo nas teclas. Estar sozinha às vezes é bom, ouvir somente a sinfonia que o silêncio e os barulhos do mundo exterior fazem.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Drink up with me now and forget all about the pressure of days
Do what i say and i'll make you okay and drive them away
The images stuck in your head

Metric - Between The Bars

quinta-feira, 6 de março de 2008

Morning

( pra ler ouvindo Sunday Morning - Maroon 5 )

Acordei, abri os olhos e tive consciência de que mais um dia estava começando. Me agarrei ao cobertor tentando me lembrar de tudo que havia sonhado, mas não consegui. Fechei os olhos e abri de novo, olhei para a porta e pude ouvir as pessoas conversando lá fora, as vozes de sempre. O cheiro do café de minha avó me deu fome, mas era tão agradável estar deitada naquela cama quentinha, a preguiça ainda era maior. Fechei os olhos novamente e me lembrei do que havia feito na noite passada, me lembrei dos olhos e dos sorrisos e de como tinha sido, mais uma vez, tão parecido com um sonho. O celular despertou, já eram 9:30 da manhã e eu precisava me levantar pra começar o dia como havia planejado. Me sentei na cama, cocei meus olhos e me levantei, abri a porta e saí do quarto. Como sempre fui cercada de "bons dias", mas fui logo para o banheiro lavar meu rosto, me olhei no espelho e sorri. Bom dia! Saí do banheiro e fui toda "bom dia" com todos, sorriso imenso e cabelos ainda bagunçados. Bom dia, céu. Bom dia, sol. Bom dia, dia! Terminei meu café e voltei para o quarto, enquanto arrumava a bagunça peguei meu celular pra ter certeza de que não estava atrasada e meu sorriso aumentou ao ver a mensagem que havia recebido. Manhã de domingo.
Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.

Clarice Lispector

quarta-feira, 5 de março de 2008

Dois pesos, uma balança*

É um choque sair da liberdade do Ensino Fundamental para a correria do Ensino Médio. No começo prevalece o encantamento com o novo mundo, ter mais responsabilidades é, até então, motivo de orgulho, é o que serve de base pra pensar que realmente se está “crescendo”. São poucos os que percebem a grande mudança logo no primeiro ano. Na medianidade que o segundo ano representa (não existe mais todo o encantamento, mas também não tem a pressão do último ano), os adolescentes acabam mudando o foco dos estudos para a pseudoliberdade que pensam ter, acabam dando mais importância para a vida social que para o colégio e o futuro. Sem saber o que querem e com medo do porvir chegam ao terceiro ano, o último ano, sendo obrigados a decidir de uma vez “o que querem ser quando crescer”. Na infância diziam que queriam ser jogadores de futebol, astronautas, bailarinas... Mas quantos mantêm seus sonhos originais? Quantos conseguem eleger o sonho como algo mais forte que o dinheiro?
Costumo dizer que o Vestibular é o bicho-papão dos adolescentes, é o que os amedronta antes de dormir. Não só quando finalmente colocam a cabeça no travesseiro, mas também o resto do dia. É quase impossível escapar, todos repetem essa palavra o dia inteiro, desde o primeiro dia do ano até o dia em que sair a lista dos aprovados. Nesse meio tempo todos querem saber para o que você vai prestar, e se responde algo como Filosofia ou Artes Cênicas parece dizer que está com alguma doença incurável ou em estado terminal, o que se vê no rosto das pessoas (que esperam Medicina ou Direito como resposta sempre) é uma expressão de dó, desgosto.
Qual o grande problema em seguir o que se gosta? Se algum adolescente sonha em mudar o mundo com suas ideologias que para os outros parecem ser utópicas, deixe-o tentar! Quem sabe não consegue e entra pra História. Se algum adolescente quer virar um bailarino profissional e viajar o mundo levando sua arte, deixe-o tentar alegrar o mundo todo com seu dom natural. Pode ser que os sonhos não se tornem realidade, mas deixe-os tentar. Talvez aconteça de não conseguirem chegar ao seu objetivo, mas pelo menos terão tentado.
Fazer o que se gosta pode ser o caminho certo. É mais fácil ser o melhor no que se gosta do que tentar se forçar a gostar do que se faz.


PS: Postarei minhas redações escolares e depois a nota que consegui e o comentário do avaliador. (Artigo de Opinião, Tema "Fazer o que quer ou o que dá dinheiro?)
* O título que deixei na redação que entreguei na escola foi "Decida-se: sonho ou dinheiro?" e só depois pensei nesse. Ainda bem que no Vestibular título não é obrigatório, sempre me dá trabalho!

terça-feira, 4 de março de 2008

Ensaio

Os dias estão mais curtos e o humor mais inconstante, ela já não parece agüentar. Refúgios parecem distantes demais e um mundo de coisas novas desinteressantes a ser enfrentado, qualquer palavra é um motivo e qualquer motivo é uma fuga. Cansaço físico e mental, poucos resultados e o mesmo medo. A mesma palavra repetida infinitamente, ela já se acostumou e passou a usá-la com mais freqüência, tudo muda e ela parece ir tão devagar. Os sons à sua volta são ensurdecedores, as palavras não se encaixam e o que ela mais deseja é um lugar pra descansar disso tudo, que mal começou. Se o que a cerca fosse mais estável talvez, então, seria mais fácil. As idas e vindas infindáveis, se pudesse chamar só um espaço de lar seria mais simples a adaptação. Ela sempre gostou de mudanças, mas parece precisar de estabilidade. Irônico, não? Logo ela, a instabilidade em pessoa.