quinta-feira, 27 de março de 2008

Sentada no banco. Ficou sentada no banco, alheia ao mundo, olhando seus pés irem na direção contrária, lembrando de cada palavra que ouviu, pensando em todas as palavras que guardou. Já não podia observá-lo ir embora e então percebeu que as pessoas à sua volta a estavam observando, algumas cochichavam palavras previsíveis e outras só a olhavam com ar de piedade. Estava com a sandália vermelha que ele tinha comprado, o vestido preto que havia sido usado no primeiro encontro, a bolsa que ele gostava e os cabelos mal-presos em um coque. Havia uma garota falando ao ouvido do namorado enquanto olhava pra ela, uma mãe dando comida para o filho fingindo não ter ouvido ou visto nada, um grupo de adolescentes que comentavam alto, todas as pessoas, as mesas, cadeiras, o chão... Até mesmo o vento sussurrava no ouvido dela, acabou. Percebeu então que seus lábios estavam se encharcando de lágrimas salgadas, sentiu nojo. Sentiu nojo e quis vomitar todas as palavras que havia guardado, queria limpar de sua mente todas as palavras vazias que compunham as desculpas dele, quis esquecer o adeus. Se levantou do banco num impulso só e limpou as lágrimas do rosto, soltou seus cabelos, tirou os sapatos, arrancou o vestido, tirou tudo da bolsa, pegou as chaves e caminhou até o carro. As adolescentes riam, a namorada tampava os olhos do namorado e a mãe virava seu filho pro lado contrário, o segurança não sabia o que fazer. Ela não se importava, sentou-se no banco do carro e dirigiu até a porta da casa dele. Desceu e entregou ao porteiro o vestido, a bolsa, os sapatos e um bilhete, pediu que fosse entregue assim que fosse embora. O bilhete continha o adeus dela e as palavras que teve de engolir por tanto tempo, finalmente teve coragem de dizer. As lágrimas agora eram doces e o vento agora sussurrava outra palavra, liberdade.

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