quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Desconfortável

Aprendi em pouco tempo que não poderia parar e deixar o tempo me arrastar com ele, deveria agir como fosse necessário pra me convencer de que eu estava vivendo a vida e não o contrário. Fui então conhecendo tudo que passava por mim, experimentando todos que me olhavam. Acabei indo morar com ele e depois de poucos meses já não nos agüentávamos mais, nossos pés não se tocavam durante a noite toda e nas que não conseguia dormir sentia vontade de pular da sacada pra me sentir livre de novo. Foi então que desejei com toda força estar em um daqueles clichês que me proibiam de usar em redações escolares: quis levantar com o despertador tocando, olhar pro lado e ver minha cama de solteiro vazia, estar com meu edredom rosa de florzinhas e ouvir minha mãe dizendo pra correr porque senão chegaria atrasada na escola. Mas o tempo já havia passado e isso não era um filme onde eu tinha me transformado em uma mulher de trinta anos durante meu aniversário de treze, era real. Fiz de tudo pra viver a vida e acabei sendo só mais uma daquelas que defendem o "Carpe Diem" pra depois poder usá-lo como desculpa para os seus excessos.
-
Tinha algo de diferente na maneira em que ela sempre queria devorar os momentos e acabei me deixando levar. Cada vez mais queria saber como funcionava a vida daquela mulher que havia aparecido para se tornar meu vício, fui a trazendo cada vez pra mais perto e a prendi na minha armadilha. Dei uma casa, lazer, conforto, prazer e a mim mesmo como suborno pra mantê-la por perto. Passados alguns meses já não conseguia mais fingir que estava tudo bem, ela não estava aqui porque gostava ou queria, estava porque não tinha pra onde ir, porque tinha se tornado conveniente. Tentei mudar cada detalhe todos os dias para a rotina não se tornar problema, mas estava sempre se tornando mais óbvia a falta de vontade dela, estava estampado no rosto dela que já não existia motivos para eu continuar a tentar. Não conseguia mais viver sem ela por perto, sem o perfume dela no travesseiro ao lado, mas havia se tornado comum ela se levantar da cama no meio da noite ou se distanciar toda vez que eu me deitasse. O sorriso dela que antes mostrava a vontade imensa de viver toda a vida de uma só vez agora é amarelo e só mostra o tempo que passou e ela não percebeu.

Um comentário:

Mistery disse...

gostei do texto
interessantissimo

um só não seria o suficiente